terça-feira, março 14, 2006

Entrevista com Edna Lopes, responsável pelo Ludo-pedagógico da CPD

Edna Lopes Nóbrega, tem 33 anos, paulistana. É educadora social na Casa Pequeno Davi e responsável pelo sector de Ludo-Pedagógico. Sempre carrega consigo uma bolsa cheia por fazer mil e uma coisas ao mesmo tempo. Os amigos riem de si por isso. Agradece a força de todos os dias para brincar e aprender com as crianças

Marco Francisco: Qual a sua função na Casa Pequeno Davi e em que consiste o Ludo-pedagógico?
Edna Lopes:
Estou na Casa Pequeno Davi há 3 anos, nos dois setores: Casa Menina Mulher e Casa Pequeno Davi. Actualmente, estou integralmente na Casa Pequeno Davi. Descobri muito sobre mim durante esses anos junto com as crianças e adolescentes e com a equipe também. O mundo das crianças é a minha constante fonte de pesquisa e descobertas. Chego a referir-me a elas como “minhas crianças”. Os laços afectivos construídos são muito fortes. Dizemos que o sector Ludo-pedagógico é o cartão de visita da CPD, pois quase todas as crianças iniciam na CPD por esse sector. Nele recebemos crianças na faixa etária de 7 anos a 12 anos, que estejam matriculadas e frequentando a escola pública nos horários opostos aos da CPD, para completar a jornada ampliada na Educação deles.
M.F: Quais os tipos de actividades que propõem às crianças e quais os seus objectivos.
E.L: Nessa oficina, as crianças e adolescentes recebem um acompanhamento escolar nas tarefas de casa trazidas da Escola, procuramos através de brincadeiras e jogos educativos despertá-las para a aprendizagem prazerosa. Procuramos também trabalhar a afectividade, sociabilidade e formação humana, valores, direitos e deveres. A cada início de ano, o sector recebe novas crianças e adolescentes e a retomada do processo de sociabilização e integração com os antigos é muito importante. Ao longo desses 3 anos, as temáticas trabalhadas com as crianças e adolescentes foram sendo aprofundadas e outras surgiram devido às problemáticas que eles trazem nas suas relações sociais. Num período de 3 horas diárias são distribuídas actividades de forma que eles possam desenvolver habilidades físicas, sociais (regras), cognitivas e afectivas. Para isso dispomos de Sala de Leitura, jogos educativos, parque e campo de grama e areia para recreação, vídeos educativos para lazer e apoio da nossa coordenadora pedagógica Ana Raquel.
M.F: Quais as maiores dificuldades em trabalhar com crianças e adolescentes em risco social e como consegue contorná-las?
E.L: Uma grande dificuldade em trabalhar com as crianças e adolescentes em risco social é lutar contra a realidade social fora do espaço Casa Pequeno Davi, no fundo, o m”mundo” no qual elas vivem. Temos histórias de crianças e adolescentes que por mais tempo que tenham ficado connosco, não foi possível protegê-las do mundo lá fora. A violência física e verbal é um grande problema. Para contorná-la é feito todo um processo de desconstrução da violência, formação de valores e estabelecimento de regras. Mas, mesmo diante de inúmeras dificuldades que atravessamos durante o ano, é possível ver a transformação na vida desses educandos e de suas famílias, em relação ao lado humano. A avaliação no final de cada ano nos orienta muito para planear o ano seguinte, o que deu bom resultado, o que precisa ser melhorado, coisas novas a serem criadas.
M.F: Quais as expectativas para este ano de Ludo-pedagogico na CPD?
E.L:O sector tem a expectativa de construir junto às crianças um espaço de muita alegria, brincadeira e aprendizagem, diminuindo o alto índice de distorção de série dessas crianças.
M.F: Se voltasse ao inicio do seu trabalho de Ludo-pedagogico na CPD, o que mudaria?
E.L: Se estivesse iniciando hoje na Casa Pequeno Davi, especificamente no Ludo-pedagógico, daria o melhor de mim como profissional, que é o que tenho feito durante esses 3 anos. Não diria que é preciso mudar, mas melhorar e tentar acertar cada vez mais.
Fotografia: Marco Francisco