terça-feira, fevereiro 14, 2006

"À CONVERSA COM..." Ana Raquel de Oliveira França

Ana Raquel de Oliveira França tem 38 anos. Psicóloga e Psicopedagoga de profissão define-se, no fundo, como aprendiz! Contribuir para a Construção da Cidadania é o grande objectivo de Ana Raquel enquanto coordenadora da Casa Pequeno Davi bem como formar gerações mais conscientes do seu papel na sociedade. Apaixonada por Literatura Infantil, a psicóloga e pedagoga visa também oferecer com o seu contributo um maior acesso à cultura e ao lazer a cerca de 300 crianças da Casa Pequeno Davi.
Marco Francisco - Qual a sua missão na Casa Pequeno Davi? Ana Raquel - Trabalhar numa Organização não-governamental no Nordeste Brasileiro é sempre um desafio. São tantos os apelos e necessidades que não fazemos um só trabalho. Temos que assumir vários pontos de enfoque para superar com urgência que as instituições de educação precisam. Assim, trabalho em várias frentes: coordeno a aplicação de recursos do Projecto Unicef, trabalho com formação de educadores(as), planeamento de capacitações mensais, recebo e acompanho voluntariado na Casa Pequeno Davi (entrevista, análise de projecto do voluntário, inserção nos sectores), acompanho educadores que trabalham com crianças da 1ª à 4ª série planejando as oficinas ludo-pedagógicas, sou conselheira municipal de educação, formulando e acompanhando as políticas de educação no Município de João Pessoa. Participo ainda na comissão de captação de recursos.
M.F - O que sente quando se fala em Casa Pequeno Davi? A.R - Sinto que temos uma responsabilidade muito grande na formação de cidadãos e principalmente na busca de um país mais justo e mais digno.
M.F - Quantas crianças estarão em actividade na Casa Pequeno Davi este ano de 2006? A.R - Para este ano estamos a ampliar o convénio com a Prefeitura Municipal de João Pessoa – Secretaria de Desenvolvimento Social. Isto implica uma ampliação de vagas para este ano e contratação de mais pessoas para trabalho na Casa Pequeno Davi. Ainda estamos em processo de matrículas mas em 2005 estiveram em actividade na Instituição cerca de 300 crianças.
M.F - Muitas crianças desejam entrar para a Casa Pequeno Davi. Não podendo entrar todas, qual o processo de selecção? A.R - A selecção é feita por meio de visitas domiciliárias a famílias que inscrevem os seus filhos durante o ano anterior. Tivemos uma lista de espera de mais de 100 crianças. É avaliada a renda mensal das famílias, se a criança está em risco social (trabalho infantil, violência intra-familiar, baixo rendimento escolar, etc.). Infelizmente muitas deixam de ser atendidas. Seria necessário que o Governo disponibilizasse mais meios e mais recursos para a Casa Pequeno Davi.
M.F - O Projecto Casa Menina Mulher faz também parte da Casa Pequeno Davi. Em que consiste este projecto? A.R - O Sector Casa Menina Mulher foi inaugurado em 1998 com o objectivo de desenvolver actividades voltadas para um público de crianças e adolescentes do sexo feminino e masculino que se encontravam em situação de risco no Terminal Rodoviário de João Pessoa e nas áreas circunvizinhas. O objectivo da equipa multidisciplinar da Casa Menina Mulher é fortalecer a auto-estima das crianças, fazendo com que elas aprendam a gostar de si mesmas, e compreendam o ambiente em que vivem. Actualmente fazem parte da Casa Menina Mulher cerca de 70 meninas (sendo que 160 irão dar entrada este ano), e nos encontros que acontecem diariamente, os nossos profissionais ministram aulas de formação onde são abordados temas como saúde e higiene, sexualidade, drogas, violência, gravidez, cidadania, direitos e deveres, família, Estatuto da Criança e do Adolescente. Também são realizadas reuniões de grupo para que todas as meninas e meninos expressem as suas opiniões, aspirações e experiências.
M.F - Que apoios tem a Casa Pequeno Davi? Quais as maiores dificuldades na coordenação da Instituição? A.R - Em primeiro lugar a Casa Pequeno Davi conta com um grupo de educadores(as) de cerca de 30 pessoas, entre funcionários e voluntários. Além destes “pilares” para que este ano o trabalho possa ser desenvolvido, contamos com os apoios da União Européia, da Cordaid (entidade holandesa), Unicef, parceria com a Concern Universal (agência inglesa) e ainda com os apoios da Prefeitura Municipal de João Pessoas e com doações Nacionais e Internacionais.
Texto: Marco Francisco / Fotografia: Marco Francisco